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A luta contra o preconceito racial no âmbito educacional

15 de julho de 2020

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Com a força do movimento Black Lives Matter, percebeu-se o quanto a sociedade ainda alimenta o preconceito, esse que foi enraizado pela história e até mesmo por uma cultura segregada. De fato, diversos movimentos evidenciaram a luta que as diferentes classes étnicas, sociais e até de gênero enfrentaram, com o objetivo de encerrar essa herança cultural tão injusta.


Desde a colonização do Brasil, até a independência, a proclamação da república e a abolição da escravatura, via-se o racismo como uma espécie de “normalidade”, o que dificulta até hoje as relações sociais e a igualdade em diferentes âmbitos. De acordo com o projeto institucional “Respeitar é Preciso”, o qual possui ênfase na educação, para mudar a mentalidade por tanto tempo estigmatizada na sociedade, deve-se iniciar tratando sobre o assunto já na educação infantil; dessa forma, uma nova geração crescerá mudando os paradigmas vigentes até hoje.

Neste artigo, iremos discorrer sobre os fatos históricos relacionados ao preconceito, e explicaremos os métodos que a educação poderia aplicar, a fim de combater esse mal de tantos séculos. Confira:

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A construção do preconceito no contexto histórico

Apesar de o preconceito estar presente em âmbito mundial, iremos priorizar os acontecimentos no Brasil, para que se enquadre a sua realidade. Acompanhe o percurso por meio dos tópicos abaixo:

Era colonial

Durante a colonização do Brasil, impôs-se uma cultura européia e católica, dando um fim repentino às bases de informação, conhecimentos, crenças e artes dos povos nativos, os indígenas.

A partir daí, iniciou-se um preconceito extremo no Brasil, já que o país em si era subjugado como inferior por ser “apenas uma colônia”, e os portugueses se consideravam superiores intelectualmente. Inclusive, grupos científicos da época em conjunto à Companhia de Jesus - os padres jesuítas - debateram muito tempo sobre a definição dos nativos, trazendo o questionamento se eles seriam “bichos” ou seres humanos. Foi aí que entrou a famosa citação do Padre Manuel de Nóbrega: “Os índios são papel em branco”.

Deu-se início então, a um processo chamado de “ação civilizadora”, em que os índios foram aculturados e transformados em trabalhadores, colônia europeia e seres que foram “salvos” por uma sociedade que se considerava superior.

Esse preconceito foi ainda mais aprofundado com a chegada dos Bandeirantes, os quais cometeram atrocidades aos indígenas; muitos deles foram gravemente assassinados, outros fugiam nos grupos chamados “quilombos”. A ideia que norteava tudo isso era a dominação, cujos métodos foram tão vergonhosos que culminaram em genocídio.

A chegada dos africanos

Durante o chamado “Ciclo do Ouro”, majoritariamente, a mão de obra escrava foi uma atrocidade gigantesca. Inclusive, os escravos tinham a jornada de trabalho de cerca de 18 horas, e passavam esse tempo todo dentro das minas, um ambiente úmido e sujeito à deslizamentos; é por esse motivo que a expectativa de vida da maioria dos trabalhadores era de 40 anos.

Foi nesse período que surgiram as “classes sociais”, que na verdade funcionavam como um sistema de castas na época. Os brancos participavam da classe alta, os descendentes desses e alguns estrangeiros formavam a classe média, tinha-se os trabalhadores, e por fim, os escravos.

Império

Durante o império, após a independência do Brasil, os escravos ainda eram 30% da população que vivia na nação. A maioria deles trabalhavam em plantações, outros eram criados domésticos e só podiam ser livres por meio da chamada Carta de Alforria, que era bastante cara.

Abolição da escravatura

A abolição da escravatura no Brasil só ocorreu após o fim do Segundo Reinado - esse que foi marcado pelo Ciclo de Café, e uma das maiores imigrações de negros da história. Foi a Princesa Isabel, em 13 de abril de 1888, que assinou a chamada “Lei Áurea”, acabando assim com o regime escravo, mas não com a segregação racial.

Os reflexos na atualidade

Mesmo depois da abolição, os negros eram uma parte da sociedade extremamente discriminada, e eram raros os que conseguiam ter uma boa qualidade de vida. Eles não eram mais escravos, mas tinham que passar o resto dos seus dias em situação de rua, já que não tinham condições de alcançarem estabilidade.

Por causa da escravização desse povo chamado de “inferior”, cuja cultura foi destruída e os valores foram banalizados, até hoje observa-se reflexos do preconceito racial. Inclusive, as estatísticas comprovam isso: em uma pesquisa realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) foi revelado que o percentual de negros assassinados no Brasil é 132% maior do que brancos. Atualmente, são também a classe étnica mais pobre e com menos nível de escolaridade do Brasil, fato esse que demonstra que o âmbito educacional possui forte influência nisso.

A educação na luta contra o preconceito racial

Voltando a mencionar o projeto “Respeitar é Preciso”, do Instituto Vladimir Herzog, deve-se dar uma importância muito grande para o papel da educação como transformadora dessa realidade.

De fato, se as crianças forem educadas com a mentalidade ativa acerca dos Direitos Humanos e um senso crítico desenvolvido, os reflexos da escravidão e o preconceito racial vigente não terão mais espaço na sociedade.

Para isso, algumas medidas podem ser tomadas como uma forma de iniciar esse processo:

Criação de campanhas frequentes de conscientização:

O projeto Respeitar é Preciso utilizou o dia da Consciência Negra, em novembro, para criar uma campanha de conscientização com foco na construção de uma mentalidade mais humana nas crianças.

O objetivo é que os formadores dessa mentalidade (os professores) evidenciem o caráter dos fatos históricos que envolveram a mão de obra escrava e a segregação racial, bem como mostrem os reflexos que ainda podem ser observados na sociedade atual, e assim destaquem a importância de isso mudar.

Relações raciais na escola:

Outro relato é uma iniciativa do CEERT, no Pará, que por meio de um projeto escolar, fez um trabalho incrível sobre a valorização da cultura afrodescendente, por meio de atividades interdisciplinares e o trabalho em grupo de alunos de diferentes etnias.

De fato, o incentivo às relações raciais na escola é uma ferramenta importantíssima para o fim do preconceito e a conscientização de uma sociedade melhor. Por isso, deve-se ter espaços durante as aulas que falem especificamente disso, além de atitudes no cotidiano mesmo, como os atos praticados pelos alunos ao encontrarem um colega de outra etnia.

Incentivo à escolarização:

Em uma pesquisa realizada por intermédio do projeto Todos pela Educação, foi extraída a informação de que apenas 62% dos jovens negros de 15-17 anos estão matriculados no Ensino Médio, isso é, muitos deles ainda não tiveram acesso à escolarização básica.

É importante que, não só as escolas e institutos, mas também os órgãos sociais e principalmente políticos realizem esse incentivo à educação, uma educação igualitária e livre de preconceitos, para que não haja novamente mais uma geração marcada pelo racismo.

Para isso, uma boa sugestão é investir em materiais, apostilas, vídeos e filmes que incentivem os alunos a lutarem contra o preconceito, além da realização da quebra de paradigmas em relação à cultura, em que inclusive muitos grandes autores - como Machado de Assis - foram esbranquiçados.

Nossa luta

A faculdade UniBF defende fortemente a luta contra a segregação e a desigualdade étnica-racial, e inclusive, oferece cursos com essa temática, como a pós-graduação em História e Cultura Afrobrasileira, e o curso livre de extensão de Cultura e Literatura Africana e Indígena, por exemplo.


A mentalidade de um povo considerado inferior deve acabar! A educação pode transformar isso, se juntos como sociedade, colaborarmos com essa causa.